Quais são os sinais de alerta para saúde mental das crianças e adolescentes?

INTRODUÇÃO

Não é novidade que os casos de distúrbios da Saúde Mental vem aumentando não só no Brasil, mas no mundo como um todo, afetando pessoas de todas as idades e classes sociais. Esta tendência não deixa as crianças e adolescentes de fora. 

Um estudo da Cambridge University realizou uma análise de dados globais com crianças e adolescentes entre 5 e 24 anos, no ano de 2021, e mostrou que a ansiedade passou a ser a principal causa de incapacidade apresentada por eles. Os sintomas depressivos ocuparam o quarto lugar e para ambos os casos houve um destaque de ocorrências para adolescentes do sexo feminino, entre 15 a 24 anos. Este estudo ressalta como a saúde mental das crianças e adolescentes foi afetada pela pandemia e como se faz necessário o suporte de saúde mental para eles no período pós-pandêmico.

Realizando uma análise de dados sobre a saúde mental das crianças e adolescentes entre os anos de 1990 e 2019, um estudo concluiu que não só houve um aumento expressivo no número de casos de ansiedade e depressão, mas também de distúrbios de comportamento, como o comportamento alimentar, em que se destaca a bulimia nervosa com 24% de aumento e da anorexia nervosa com 17% de aumento.

SINAIS DE ALERTA

E como proteger nossas crianças e adolescentes destes males “invisíveis”? Primeiramente, as doenças mentais podem não ser tão visíveis quanto um gesso em uma perna quebrada, mas elas podem doer tanto quanto um osso quebrado ou até mais. Então nunca minimize a dor dos jovens por acreditar que eles não tem “problemas de verdade”. Este tipo de postura afasta as crianças e adolescentes e eles entendem que não podem contar com você como porto seguro. Então esteja sempre disponível para escutar sem julgamento.

Como comentei, as doenças mentais não são “visíveis”, mas podemos observar vários sinais de atenção que nos mostram que há algo de errado, esta é a lista dos sintomas principais:

  • Queda acentuada no rendimento escolar ou desempenho abaixo do esperado mesmo com esforço.
  • Alterações persistentes no humor: tristeza prolongada, irritabilidade, oscilações grandes de humor.
  • Alterações no sono, como insônia ou dormir demais
  • Alterações de apetite  ou  peso (perda ou ganho acentuado)
  • Isolamento social e perda de interesse em atividades antes prazerosas.
  • Queixas físicas frequentes sem causa médica evidente (como dores de cabeça, dores abdominais, fadiga).
  • Dificuldade de concentração, inquietação ou agitação.
  • Pensamentos suicidas, cutting (automutilação), falas relacionadas ao desejo de morte.
  • Sintomas persistentes ou recorrentes, especialmente se associado ao contexto (trauma, adversidade familiar, histórico pessoal ou familiar de transtornos mentais).

Sobre estes sintomas, algumas crianças e adolescentes os apresentarão de forma mais clara e outros de forma mais discreta, por isso é importante que se tenha um olhar atento para suas sutis mudanças de comportamento. Outro adendo importante é que muitos dos sintomas mencionados podem estar associados a transtornos cognitivos como TDAH e TEA (autismo), por exemplo, e não se tratarem especificamente de distúrbios da saúde mental como ansiedade ou depressão. 

E O QUE EU DEVO FAZER!?

Estar emocionalmente disponível para sua criança ou adolescente é um requisito para o êxito no relacionamento e para saúde no geral. Então sempre busque praticar uma comunicação aberta, sincera e sem julgamentos. Seja verdadeiro também em relação aos seus sentimentos. As crianças e adolescentes são muito mais perspicazes do que imaginamos e na grande maioria das vezes também percebem quando não estamos bem.

QUANDO BUSCAR AJUDA PROFISSIONAL?

Como responsáveis por eles, muitas vezes nos sentimos impotentes por termos demorado a perceber, ou por não saber como prosseguir. Mas não se culpe! As crianças e adolescentes não vem como manual de instruções e buscar ajuda é uma grande aliada neste processo. Não há um momento exato em que devemos buscar ajuda, o ideal é que aconteça o quanto antes, assim que percebermos que algo pode estar errado.

QUAL PROFISSIONAL BUSCAR?

Qual especialidade buscar irá depender das demandas individuais de cada criança ou adolescente, por exemplo;  pode ser indicada a realização de avaliações neuropsicológicas para identificação de transtornos cognitivos ou o encaminhamento para o acompanhamento psicológico, para manejo emocional, desenvolvimento da tolerância a mal estar, entre outros. 

Na grande maioria dos casos, buscar uma equipe multidisciplinar é a melhor opção, pois possibilita que você converse com profissionais da área da saúde mental e entenda qual o melhor encaminhamento. Uma dica é agendar visitas a Clínicas e entrar em contato com os profissionais antes de iniciar o acompanhamento. Assim você pode escolher a equipe que considere especializada, que faça você se sentir mais seguro e que acolha você e a criança de forma responsável e ética.

 O auxílio profissional, seja para uma intervenção pontual ou para um acompanhamento mais prolongado, não só se torna indispensável em muitos casos, mas também pode salvar vidas e possibilitar que esta criança se torne um adulto saudável no futuro, já que a maior parte das intercorrências de saúde mental da fase adulta se originam na infância.

Percebendo que pode haver algo de errado, busque ajuda. Nós da equipe Naturis estamos aqui para ajudar!

Sobre a autora:

Isabelle Tiusso

Naturóloga, graduada pela universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa. Tem sua prática Clínica voltada para saúde mental e manejo emocional através da Práticas Integrativas e Complementares em Saúde.

REFERÊNCIAS

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